quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sangrando

Se doesse assim
mas ao menos esgotasse
e chegasse ao fim

é como sangrar um parto
de filho morto.

Luna

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Teu sopro












Teu sopro

Puta maldita!

Tara meu corpo
crava, suga, seduz
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promete o sopro
num gozo extremo
e se afasta
antes do termo

Puta! vadia!

despe-me de vida
e nega
o beijo último

definho
mas ainda vivo.

Luna Echant

(In)definição













(In)definição

Morro aos poucos,
definho linha a linha
verso a verso
bebo, num reverso de vida
goles de quase morte
todos os dias.
Quase vivo há anos
há anos quase sou...
Queria apenas "ter sido".
A única coisa
realmente definitiva
é deixar de ser.
Luna Echant

domingo, 26 de julho de 2009

Mais um dia...

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Há uma linha tênue que me separa do lado de lá.
Observo uma vela que se queima, e imagino que seja eu... o fogo é sedutor, é intenso, é forte. Mas, aos poucos a cera vai escorrendo, derretendo, e o fogo se apaga.
Se a vela cair, o fogo se apaga...
um vento forte, e o fogo se apaga...
se alguém assoprar... puff!
Tão simples deixar de ser... tão ínfimo o poder do ser humano diante da vida... diante de Deus. E diante de si próprio, muitas vezes seu maior inimigo.
Quando me enfrento, corpo a corpo, sinto meus pés no limite... passar ao outro lado é uma questão milimétrica. Eu sou minha própria sina, meu próprio algoz, minha sentença.
Desequilibro, titubeio...vou e volto. Meu corpo se lança em direção ao que seria o fim ou quem sabe, o começo. Mas eu recuo... medo? insegurança? Falta tão pouco... e meus pés me traem.

Sou uma suicida inconfessa? Um ser covarde em busca de justificativas para encerrar minha conta neste mundo? Ou talvez, um ser inquieto o suficiente para não se contentar com suposições sobre "o que há no final do túnel"?
Não quero desvendar a morte... tampouco desafiar a vida... quero DECIDIR, apenas isso... uma vez ao menos.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Confessional



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Deixo-me seduzir pela vida
e entrego-me facilmente ao prazer
Dôo meu corpo e minha alma
e transcrevo minhas sensações
quando, em verso ou prosa
confesso meus pecados
descrevo minhas alucinações
destilo meus venenos
ou quem sabe,
transmuto minhas energias
e busco luz onde há somente escuridão.

Confesso que sou fraca
e que tenho medo da morte
mas ao mesmo tempo em que temo
também ela me seduz.
Da vida que me trespassa
cravando em mim sentimentos
deixando marcas, pautando linhas
traçando rotas
é ela, a morte... quem me orienta
é nela que tenho o norte
onde jaz o que tanto busco
a paz, a sorte...o descanço
da vida triste
das dores, do desencanto.

Luna Echant

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ocaso

Bendito espinho

que atravessou o linho,

cravou-me a carne

e me fez sangrar...

Há ainda mais beleza no dia,

quando ele se faz noite.

Luna Echant





Que a noite chegue, e que o dia possa enfim descansar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Salmo 87

Cântico. Salmo dos filhos de Coré. Ao mestre de canto. Em melodia triste. Poema de Hemã, ezraíta.

Senhor, meu Deus, de dia clamo a vós, e de noite vos dirijo o meu lamento.
Chegue até vós a minha prece, inclinai vossos ouvidos à minha súplica.
Minha alma está saturada de males, e próxima da região dos mortos a minha vida.
Já sou contado entre os que descem à tumba, tal qual um homem inválido e sem forças.
Meu leito se encontra entre os cadáveres, como o dos mortos que jazem no sepulcro, dos quais vós já não vos lembrais, e não vos causam mais cuidados.
Vós me lançastes em profunda fossa, nas trevas de um abismo.
Sobre mim pesa a vossa indignação, vós me oprimis com o peso das vossas ondas.
Afastastes de mim os meus amigos, objeto de horror me tornastes para eles; estou aprisionado sem poder sair,
meus olhos se consomem de aflição. Todos os dias eu clamo para vós, Senhor; estendo para vós as minhas mãos.
Será que fareis milagres pelos mortos? Ressurgirão eles para vos louvar?
Acaso vossa bondade é exaltada no sepulcro, ou vossa fidelidade na região dos mortos?
Serão nas trevas manifestadas as vossas maravilhas, e vossa bondade na terra do esquecimento?
Eu, porém, Senhor, vos rogo, desde a aurora a vós se eleva a minha prece.
Por que, Senhor, repelis a minha alma? Por que me ocultais a vossa face?
Sou miserável e desde jovem agonizo, o peso de vossos castigos me abateu.
Sobre mim tombaram vossas iras, vossos temores me aniquilaram.
Circundam-me como vagas que se renovam sempre, e todas, juntas, me assaltam.
Afastastes de mim amigo e companheiro; só as trevas me fazem companhia...


Há na morte uma beleza que me seduz. Algo dantes temido, mas agora admirado e por vezes, desejado.
Pois, se viva sinto minhas forças sendo consumidas, creio que a morte há de me levar à vida no seu plano mais absoluto e intenso.
É preciso que meu corpo se esgote, para que a vida que há em minha alma transborde.